As evoluções tecnológicas que convergem para o conceito da 4ª Revolução Industrial desencadearam um ciclo de mudanças que vêm transformando modelos tradicionais da economia, das relações sociais e culturais, numa tendência de salto de evolução na história da humanidade.
Pelas características exponenciais e disruptivas que essas mudanças apresentam, seus impactos tem se mostrado amplos, profundos, imprevisíveis e potencializados pela velocidade com que acontecem, as tornam mais difícil de acompanhar e compreender.
Um tema que tem preocupado especialistas de diversos setores e vem gerando muito debate é o futuro do trabalho. Essa revolução abrange e afeta mais profundamente um espectro maior de profissionais e profissões, atingindo tanto os chamados “colarinho azul” (blue collars)* – os que desempenham funções que não requerem maior qualificação, quanto os de colarinho branco (white collars) – que desempenham funções gerenciais intermediárias.
ESTRUTURAS HIERÁRQUICAS FUNCIONAIS
Ainda é muito comum pensarmos na figura de uma pirâmide, quando queremos representar a estrutura das relações de trabalho: uma base larga composta pelos trabalhadores blue collars, que vai afunilando, passando por uma região intermediária composta pelos white collars, culminando num topo composto pela alta gestão, exclusiva para poucos (Fig. 1).

Agora esta pirâmide tem sua região intermediária estrangulada, pela aniquilação de funções e cargos, empurrando os profissionais situados nesta área para cima ou para baixo, transformando-a em algo parecido com uma “ampulheta” (Fig 2).
Tal movimento faz com que os profissionais da “média gerência” tenham que se reposicionar, sendo que as funções do topo da ampulheta, como é de se esperar, irão demandar profissionais cada vez mais qualificados, com alto grau de instrução, aumentando assim os salários nessa região. Quem não conseguir se auto hackear (se reinventar e evoluir constantemente) será empurrado naturalmente para a parte de baixo da ampulheta.
AUTOMAÇÃO DO TRABALHO
Um estudo feito pela consultoria McKinsey, em que foi analisado o impacto da automação em 54 países, abrangendo 78% do mercado de trabalho global, aponta que no Brasil, por exemplo, 50% dos empregos serão automatizados.
Os setores com maior potencial de impacto no Brasil estão descritos na figura 3 a seguir:

A magnitude do impacto em outras economias também é brutal: EUA 46%, China 51%, India 52%. Porém o cenário é extremamente dramático em países que já apresentam desigualdade social extrema, como é o caso do Brasil.
Um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, condensado no relatório Future of Jobs realizado em 2015, já apontava que até 2020 as demandas para emprego serão concentradas muito mais em habilidades de resolução de problemas complexos, competências sociais e de sistemas, ao passo que reduzirão para habilidades físicas ou competências técnicas específicas. Esse cenário apenas reforça o argumento de que o indivíduos que tiverem capacidade de se auto hackear terão vantagem nesse processo, ocupando posições com maiores salários e os demais serão relegados a ocupações subvalorizadas, o que tenderá a agravar as tensões entre classes e o aumento do abismo social, inclusive entre países.
IGUALDADE DE OPORTUNIDADES
Esse círculo vicioso é reforçado quando se faz uma projeção para as pessoas que serão inseridas no mercado de trabalho no futuro. O jornal espanhol El País em janeiro deste ano fez uma reportagem intitulada “Inventor: um ofício de crianças ricas”, na qual apresenta evidências de que o talento é esmagado pelas desigualdades sociais e de gênero, mesmo em países ditos desenvolvidos.
Você deve estar se perguntando: mas qual a relação disso com o futuro do trabalho? Note que as principais demandas do mercado de trabalho no futuro estarão relacionadas à habilidades ligadas à criatividade e inovação.
Os autores de um dos estudos nos quais a reportagem se embasa, “Quem se torna um inventor nos EUA“, são categóricos:
“Transformar-se em inventor depende de duas coisas nos Estados Unidos: se destacar em matemática e ciências e ter uma família rica”
Para o estudo foi analisada uma grande amostragem: um perfil sociodemográfico de 1,2 milhão de inventores nos EUA, que considerou a renda familiar, as notas escolares e as patentes registradas.
Um estudo equivalente ao estadunidense foi realizado na Finlândia: “A origem social dos inventores”, sobre os inventores naquele país, que é um dos mais igualitários do mundo, obteve resultados similares aos dos EUA, concluindo que a possibilidade de uma pessoa se tornar um inventor na idade adulta é aumenta a medida que a renda da família cresce.
ALGUNS DADOS SOBRE DESIGUALDADE DE GÊNERO
Um outro aspecto relevante nesses estudos relacionado a desigualdade de gênero, mostra que as mulheres ocupam um espaço ínfimo: em uma amostra de 9.000 europeus com patentes relevantes, apenas 2,8% pertenciam a inventoras.
Outro estudo citado na reportagem do El País foi realizado em 2016, também com foco na Europa: “É um trabalho de homem: renda e diferença de gênero na pesquisa industrial”. O trabalho concluiu que apenas 4,2% dos 9.700 inventores de 23 países europeus eram mulheres, com 8,3% na Espanha, por exemplo. Na Suécia essa representatividade é ainda menor, com apenas 2,4% das patentes registradas por mulheres.
O Fórum Econômico Mundial no estudo “Global Gender Report 2015” aponta que no ritmo atual levaremos 118 anos para atingirmos a paridade de gênero e que o progresso nesse sentido é bastante lento e evasivo.
Um outro estudo do Fórum Econômico Mundial – “The Industry Gender Gap Women and Work in the Fourth Industrial Revolution” de 2016 – afirma que o talento feminino continua a ser um dos mais subutilizados ou desperdiçados, apesar de as mulheres em média, apresentarem maior grau de instrução que homens em todo o mundo e participarem mais ativamente no mercado de trabalho, suas chances de ascender a posições de liderança são de apenas 28% em relação às dos homens.
DUPLA PIRÂMIDE
O cenário futuro para a estrutura das relações de trabalho poderá evoluir para um formato que não será exatamente de uma ampulheta, mas de uma dupla pirâmide: uma menor, invertida no topo e outra muito maior na base, ligadas por um ponto de intersecção com alto grau de desigualdade e somado a isso há o desafio de romper as barreiras de gênero.

Temos diante de nós o enorme desafio de promover uma transição que permita a democratização e universalização dos benefícios e avanços proporcionados pela 4ª Revolução Industrial, reduzindo desigualdades e levando a humanidade para um estágio mais elevado de evolução.
Qual a sua opinião sobre isso?
O avanço tecnológico dentro do processo produtivo nas empresas é determinante às mudanças que o mercado de trabalho exige. É uma etapa de grandes transformações com profundos reflexos na condução e gerenciamento para qualquer gestor dentro de uma empresa. É um processo que requer além de conhecimentos, qualificação profissional, requer um profundo perfil para implantação das inovações nas pessoas e nos produtos colocados a disposição dos consumidores.
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Olá Mauro. Os avanços que o mercado demanda vão além daqueles relacionados aos processos produtivos. Podem contemplar inclusive o próprio negócio, havendo sempre a necessidade de avaliar se o tipo de atividade continuará fazendo sentido, ao menos da maneira como é realizado e entregue atualmente. O mesmo vale sobretudo, para o trabalho realizado pelas pessoas. A reflexão que se deve fazer é qual o potencial de automação ou de substituição da atividade exercida por tecnologias relacionadas à Inteligência Artificial. E não são mais atividades braçais como na revolução industrial do século XVIII. Mesmo atividades analíticas estão suscetíveis à automação, pois nenhum ser humano é mais eficiente que os algoritmos de redes neurais, que tem a capacidade de analisar milhões de dados, identificando padrões e trazendo os resultados em segundos. Vivemos um momento de enorme oportunidade de se preparar para essa nova onda de evolução e transformação.
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