Ao trabalhar em uma corporação, muito do que é posto em textos sobre carreira e seu pleno desenvolvimento está relacionado à entrega de resultados, por exemplo, através de atividades que aumentem a percepção de receitas, bem como a contribuição com base em habilidades e competências para o ambiente ocupacional. O quantitativo pode estar relacionado à “última linha do balanço” e o qualitativo, a um ambiente fecundo de desenvolvimento pessoal e colaborativo (logo, a coletividade é extremamente importante dentro das relações de trabalho).
Contudo, falando sobre o quantitativo (ou “última linha do balanço”), você já parou para pensar na sua sustentabilidade financeira, no que tange seu orçamento pessoal e/ou familiar?
Existe uma máxima ao longo da trajetória de cada um conhecida como: “para enfrentar um problema, é necessário enxergar a realidade.”
Quando não sabemos qual é nossa linha de chegada em termos do orçamento pessoal, tendemos a buscar uma lógica de enriquecer, associar trabalho ao dinheiro em si, buscando trabalhar mais e mais, sem que haja uma reflexão entre “necessidade” e “desejo” por exemplo. Pelas buscas do ganhar mais, gasta-se mais, e segue-se uma lógica que na prática afeta sobre a sustentabilidade financeira pessoal (grosso modo, ganha-se R$6k, mas gasta-se R$18k). Logo, períodos de crise tendem a ser nefastos nesses casos, independentemente da quantidade de dígitos de seus vencimentos. Um caso chamou a atenção (por uma comunicação pessoal) de um empreendedor de pequeno porte que faturou R$3,5mi em 2015, que ao final do ano, não sabia dizer sobre a destinação dos recursos. Ele mencionara que não tinha controle sobre suas contas pessoais e da empresa, recorrendo ao mercado paralelo de captação. Em 2016, comprou um carro (supostamente, um sedã médio), fez o pagamento a vista (custou uns R$75k), mas afirmou que na mesma situação não tinha como comprar uma flor para sua esposa, em função de aniversário de casamento. Um conhecido (que me compartilhou essa história) emprestou R$15,00 para essa situação.
Outro fenômeno, o efeito “Tio Patinhas”, em que a pessoa não gasta dinheiro com nada, sendo simbolicamente, quem “guarda o dinheiro embaixo do colchão”. Mesmo que deixe no banco, a pessoa se nega a consumir, abre mão de viver o presente, sendo o futuro algo idealizado.
Contudo, pensar pela lógica de prosperidade de vida, não envolve só os recursos materiais, mas também o sentido destes e os recursos internos e afetivos. Por essa lógica, é mais comum as pessoas reconhecerem que “todo trabalho tem sua data de validade” e recomeçar é algo menos custoso do ponto de vista da ação em si, mesmo que os recursos sejam previsíveis de escassez. Nesse sentido, mesmo com dificuldades, a relação com os recursos prevê que haja sobras, algo como ganha-se R$3 mil e sobra R$1 mil. A relação com o tempo e dinheiro tem seu devido balanço e a pessoa supera a falsa dicotomia entre “viver ou juntar dinheiro” (a propósito, morto junta dinheiro?). Falando em propósito, aqui há mais clareza sobre seus objetivos em relação a trabalho, consumo e renda, que o acúmulo de capital em si.
Essa reflexão ratifica um posicionamento sobre a vida cotidiana: não há fórmula que garanta quanto é necessário para se sobreviver. Mas, refletir sobre as escolhas feitas e reconhecer quais são os limites (ou “telhados de vidro”) em relação à sua própria gestão financeira. Seria interessante que as pessoas físicas e famílias pensassem e agissem de forma a terem melhor governança de seus recursos tal qual acontece por exemplo, com empresas de capital misto e de capital aberto.
Apreender como se qualificar sobre as finanças pessoais (até porque, estamos inseridos num modelo de capitalismo e para a equipe econômica de governos no Brasil há décadas falam que o consumo é motor da economia) requer ter conhecimento técnico adequado, preferencialmente com isonomia e transparência, mas há os pontos qualitativos, que não prevê só de racionalidade e objetividade. Grosso modo, é observar sobre sua relação com as finanças (logo, seu comportamento sobre o assunto no dia-a-dia). Outrossim, dentro do tema de finanças comportamentais, importante observar sobre a coletividade e transparência para tomada de decisão, principalmente no que tange o orçamento familiar (visando mitigar litígios e competição entre os membros inseridos na relação familiar, promovendo confiança). Se apenas o conhecimento técnico fosse suficiente sem observar para questões comportamentais, pessoas que trabalham em áreas como contabilidade, finanças, controladoria por exemplo não “quebrariam” em relação à sua sustentabilidade financeira pessoal.
Nos dias atuais, há intensos debates sobre o tempo de aposentadoria no país, considerando o envelhecimento da população, além dos dados recentes de queda na renda de trabalhadores e trabalhadoras desde 2013. Logo, a qualificação sobre as finanças pessoais é tema relevante do ponto de vista por escolhas autênticas, usando o tempo a seu favor, em vez de “correr atrás do prejuízo”. Além disso, a pressão por mais recursos pode ser fator de adoecimento de longo prazo, o que pode trazer consequências à pessoa e outros(as) a seu entorno.
O que fora descrito até agora versa sobre os benefícios da Educação Financeira do ponto de vista de tomar decisão de forma autêntica, sobre os recursos materiais, sendo possível ampliar seu repertório de possibilidades, concernentes à vida pessoal e profissional empreendendo na prática cotidiana sobre seus recursos materiais. Pense que se você já souber qual o piso e o teto de onde pretende chegar, é possível constituir seu protagonismo nas escolhas profissionais, e evitar outra menção controversa de que “o céu é o limite”, como se todos(as) pudessem sempre estar no topo, de forma universal, sem considerar o contexto macro e as escolhas individuais que fazem sentido a cada um(a). Essa mudança na relação com os recursos não ocorre da noite para o dia ou sequer por osmose. É necessário em primeiro lugar, se qualificar quanto ao assunto, e ir praticando dia-a-dia.
Faz sentido a você?