Nos dias 24 à 26 de janeiro, na Unibes Cultural, rolou a terceira edição do Fru.to — Diálogos com o Alimento. Confira tudo que rolou por lá!


Quase todos os palestrantes mencionaram uma conta básica — porém não disseminada, sobre a disponibilidade de água no planeta:

O principal ensinamento é que não temos uma crise da água — e sim uma crise sobre gerenciamento da água: como Milton Antonio da Matta, da UFPA, fez questão de frisar. Foi descoberto o SAGA — Sistema Aquífero Grande Amazônico — que se estima possuir no subterrâneo 3 vezes mais água que o Guarani, conhecido como o maior até então.
No sábado, por sua vez, foi a vez de se falar sobre reciclagem, resíduos, embalagem e rótulo. Entre as entidades presentes nas palestras, podemos citar o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Aliança Resíduo Zero e do Engajamundo — organização que nasceu a partir de um encontro na ONU. Para além do consumo, fomos convidados a repensar a maneira com que a produção de alimentos impacta a sociedade quando pensamos sob a ótica da água. Destaque para Paula Costa e Valter Ziantoni, da PretaTerra, consultoria agroflorestal que se propõe a criar designs replicáveis de sistemas de produção regenerativos, combinando dados científicos, informações empíricas e conhecimentos tradicionais com inovações tecnológicas.
No último dia do Fru.to, o mesmo iniciou-secom uma inovação: pela primeira vez, o evento foi aberto ao grande público. Iniciando com o Planeta Oca, um show voltado à família que conta com músicas que passam pelo tema central do evento — a água -, bem como o cuidado com o planeta, lixo e biomas do Brasil. Ao longo do dia, houve a exibição de diversos documentários que reforçaram as ideias tratadas nos dias anteriores, tais como “Ilha das Flores”, “Muito Além do Peso” e “Nuvens dei Veneno”. Em paralelo, ocorreram duas mesas de debate, ambas mediadas pela sommelier Gabriela Monteleone.
Sob a temática “Fermentados” e com a presença de especialistas da área, a primeira discussão girou em torno da cerveja, do pão e do vinho. Em quase duas horas de bate-papo, o assunto que permeou as falas foi o papel da indústria alimentícia na preservação (ou não) da cultural local. Ao mesmo tempo que existe uma tendência em vilanizar tal indústria, não podemos nos esquecer que ela foi a responsável por conseguir alimentar, ao longo de um século, um aumento de 600% da população mundial. Ainda assim, em última instância, trata-se de uma discussão ética, pois indústrias tem o poder de decidir sobre o impacto que podem (e querem) gerar.
Falando sobre “Bebida Brasileiras”, a segunda mesa já começou com uma provocação: “a maior expressão brasileira, no copo, é a cachaça”. A cachaça — e a cana-de-açúcar — possui uma importância cultural, econômica, histórica. Mas será que valorizamos essa bebida, a ponto da mesma estar presente no cotidiano? Por que beber vinho é sinônimo de status, mas costumamos pensar na cachaça como bebida pra encher a cara? No viés da agrobiodiversidade alimentar, podemos ir mais longe: você já consumiu tiquira, o destilado de mandioca? Esse tubérculo tem o Brasil como país de origem, e seu destilado é comum na região Nordeste do país. Quantas outras possibilidades ainda não são exploradas, por que achamos que a grama do vizinho é sempre mais verde? Por fim, o consenso foi que existe uma necessidade latente de construir espaços voltados ao diálogo ao redor da cadeia do alimento.
E não é justamente isso que o Fru.to se propõe? “Uma plataforma de conexão, engajamento e mobilização de ações, projetos, pessoas, organizações e empresas voltadas para solucionar os grandes desafios da produção de alimento bom, limpo e justo, no mundo hoje e nos próximos anos”.

Conteúdo original publicado no Chicken or Pasta—um site de viagem que explora os mais variados destinos do mundo através de música, arte, viagem, arquitetura, gastronomia e lifestyle — em colaboração com Vanessa Mathias.