Por João Kepler para coluna Mentes Brilhantes – Whow! Inovação para Negócios
Se unir para poder atender às exigências de seus clientes e criar uma infraestrutura tem se provado cada dia mais válido no mercado
Não é de hoje que a competição faz parte do mundo dos negócios e me arrisco a dizer que, de certa forma acredito que sempre vá fazer. No entanto, sob o foco da ética, esta competição deve acontecer observando regras, de forma a não se transformar em uma prática predatória e destrutiva para as relações profissionais e sociais.
Ainda assim, nos últimos anos o que temos observado também é a crescente colaboração entre empresas, principalmente as novas e startups, que já se deram conta que às vezes dividir é a melhor forma de somar no mundo dos negócios. Aquela ideia ou prática antiga de tentar ou prejudicar, de fato, concorrentes, já não faz mais sentido em um mundo novo em construção que tem privilegiado cada vez mais a economia colaborativa e compartilhada. Neste cenário, a competição tem dado lugar a coopetição entre startups e coopetição entre investidores.
Perceba que os investidores tradicionais muitas vezes competem por negócios no mercado e às vezes até disputam dentro de um conselho de uma empresa. Já os investidores de startups, ocupam assentos no conselho para compartilhar seus conhecimentos e ajudar efetivamente a empresa a crescer e se destacar. Os investidores em startups acreditam, inclusive, na cooperação com concorrentes para promover o sucesso de um negócio.
Coopetição: características da cooperação e da competição
Está prática tem nome, você já ouviu falar em coopetição? Trata-se do melhor dos mundos ao combinar estratégias de negócios que combinam as características da cooperação e da competição, e é usada cada vez mais por empresas de computação em nuvem, mas que poderia – e deveria –, ser incorporada por todas as empresas que desejam crescer, afinal, juntar-se a parceiros estratégicos é uma das ações que mais gera resultados a médio e longo prazo para qualquer negócio.
Um livro interessante sobre esse assunto é “Co-opetição”, de Barry Nalebuff e Adam Brandenburger, que explica como a teoria dos jogos pode ser aplicada aos negócios. Basicamente esta obra mostra que o primeiro passo é identificar os jogadores, sendo que os principais jogadores são: sua empresa, seus clientes e seus fornecedores. Embora possam existir outros jogadores, como serviços que competem e serviços que complementam o seu, por exemplo. Um jogador tal como foram denominados, seriam então seu complementador, quando o seu produto ou serviço é mais valorizado quando está associado ao dele do que quando sozinho. Ainda dentro desta lógica desenvolvida pelos autores, seria possível identificar os jogadores que favorecem a sua empresa e aqueles que competem com você.
Mas você pode estar se questionando agora: “João, no mundo dos negócios as coisas não são tão simples assim, nem sempre é possível identificar aqueles que estão a seu favor e aqueles que estão contra.” De fato, com aqueles jogadores que são seus competidores naturais, muitas vezes a disputa é tão acirrada e desgastante que leva ao pior dos cenários com perdas irreparáveis para os dois lados, que acabam não compensando a vitória.
E é justamente por isso, que o ideal é evitar uma concorrência mutuamente destrutiva: para que você tenha sucesso, pode ser necessário deixar que todos ganhem um pouco, inclusive seus concorrentes.
Talvez para alguns o que eu acabei de colocar possa parecer um pouco estranho, mas para aqueles que já entenderam que é infinitamente melhor compartilhar vitórias e o sucesso do que remoer derrotas e fracassos, a coopetição passa a ser uma excelente estratégia.
Note ainda que os serviços complementares podem ser determinantes para o sucesso ou o fracasso de um negócio na atualidade, e o melhor exemplo disso talvez seja o mercado de computação em nuvem que é muito propício para a criação de relações de coopetição. Isso porque nos últimos anos as empresas deste setor já perceberam que, ao invés de ficar brigando, o melhor que elas têm a fazer é juntar suas forças para enfrentar os competidores comuns. Tenho certeza de que alguns nomes vieram a sua mente.
Sabe aquele ditado que diz: “Mantenha seus amigos por perto, mas os seus inimigos mais perto ainda?”
“Se unir para poder atender às exigências de seus clientes e criar uma infraestrutura que una as virtudes das soluções de diferentes empresas para fazer frente à concorrência, tem se provado cada dia mais válido no mercado.“
O papel do governo
Existe ainda um competidor onipresente que é o Governo, um jogador que nunca pode ser evitado nem tirado do jogo, e que pode ainda exercer qualquer um dos papéis: cliente, fornecedor, competidor ou complementador. Quando este competidor onipresente cumpre o papel de forma complementar, ele agrega valor e contribui para o desenvolvimento das empresas e do país.
Já no papel de competidor, geralmente, sempre compete com as empresas pelo dinheiro do mercado. Embora seja um competidor que sempre ganha a sua parte, o problema começa quando o Governo joga apenas como um competidor voraz e predador, que compete com as empresas pelo dinheiro do mercado, mas não oferece a contrapartida dos serviços de infraestrutura fundamentais para o país. Mas nem vou entrar neste mérito aqui que daria assunto para um outro artigo.
O importante aqui, e é esta a mensagem que eu gostaria de deixar – é o fato de que hoje em dia e, não é segredo para mais ninguém, mercados tradicionais rapidamente deixam de existir como, também, modelos de negócios que foram bem sucedidos durante décadas parecem virar pó do dia para a noite. Neste sentido, é preciso entender – mais do que nunca, e de forma definitiva –, que o ganho de um não necessariamente precisa representar a perda de outro.
Ou seja, desenvolver uma visão com base na coopetição potencializa as chances de identificar oportunidades de cooperação para o progresso do mercado em si, e de cada participante dele. Pense nisso.

João Kepler
Partner e Diretor da Bossa Nova Investimentos