Sondando o lado nefasto do conselho de carreira para “seguir sua paixão”, este estudo explica as armadilhas por trás do princípio da paixão e perpetua a desigualdade por classe, gênero e raça; e sugere como podemos reconfigurar nossas relações com o trabalho assalariado.

“Siga sua paixão” é um mantra popular para a tomada de decisões sobre carreira nos Estados Unidos. A busca pela paixão parece um caminho promissor para evitar o lado enfadonho de uma vida de trabalho assalariado, mas esse “princípio da paixão” – por mais sedutor que seja – não é universalmente concretizado. O recém lançado livro “The Trouble with Passion” (O problema com a paixão, em tradução livre, ainda sem versão em português) revela a desvantagem significativa desse princípio: o conceito ajuda a legitimar e reproduzir uma cultura de força de trabalho explorada excessivamente e serve amplamente para reforçar a segregação e desigualdades de classe, raça e gênero.
Fundamentando sua investigação nas tensões paradoxais entre a demanda do capitalismo por trabalhadores ideais e nossas expectativas culturais de autoexpressão, a socióloga Erin A. Cech baseia-se em entrevistas que acompanham estudantes da faculdade até sua chegada ao mercado de trabalho, em pesquisas com trabalhadores dos EUA e dados experimentais para explicar por quê o princípio da paixão é um mantra atraente, embora enganoso, para a tomada de decisões profissionais especialmente para os que têm formação universitária. A busca pela paixão pressupõe redes de segurança e trampolins presentes na classe média e penaliza os jovens adultos da primeira geração e da classe trabalhadora, que buscam a paixão sem a disponibilidade desse tipo de estrutura de proteção sócio-econômica. Os efeitos propagadores desse mantra minam a promessa da faculdade como uma ferramenta para a mobilidade social e econômica. O princípio da paixão também alimenta uma cultura de excesso de trabalho, encorajando os trabalhadores assalariados a tolerar empregos precários e a sacrificar de bom grado tempo, dinheiro e lazer pelo trabalho pelo qual são apaixonados. E os empregadores em potencial cobiçam, mas não compensam a paixão dos candidatos a empregos.
Este livro pergunta: o que é necessário para centrar a paixão nas decisões de carreira? Quem sai na frente e quem fica para trás na busca pela paixão? O Problema com a Paixão exige que os cidadãos, educadores, administradores de faculdades e líderes da indústria reconsiderem como pensamos sobre bons empregos e, por extensão, boas vidas.
E você, concorda com a visão de que priorizar a paixão agrava problemas daqueles que já sofrem de alguma maneira com questões ligadas a desigualdade?
SOBRE A AUTORA
Erin A. Cech é Professora Assistente de Sociologia da Universidade de Michigan. Sua pesquisa investiga como crenças culturais aparentemente benignas e tidas como certas reproduzem as desigualdades na força de trabalho.
Você pode ler mais sobre a Erin Cech no The Atlantic (em inglês).